Os Suspeitos (2013)

16.1.15



Título original: Prisoners. Ano: 2013. Gênero: Suspense. País: EUA. Duração: 153 min. Direção: Denis Villeneuve. Roteiro: Aaron Guzikowski. Elenco: Jake Gyllenhaal, Hugh Jackman, Viola Davis, Melissa Leo, Maria Bello, Terrence Howard, Paul Dano, David Dastmalchian.

Os Suspeitos é mais um daqueles filmes de 2013 que eu queria ver, me enrolei pra ir no cinema e acabou passando, o que é realmente uma pena porque esse filme é muito bom e valia o preço do ingresso! É um daqueles filmes cheios de eventos aparentemente isolados que se encaixam num ótimo quebra-cabeças no final.

O filme conta a história de duas famílias que precisam lidar com o desaparecimento misterioso de suas filhas pequenas, uma de 6 e a outra de 7 anos, no dia de Ação de Graças. A investigação fica a cargo do detetive Loki (Jake Gyllenhaal), que conduz o caso com calma e segurança, o que acaba por irritar o pai desesperado de uma das meninas, Keller Dover (Hugh Jackman), que decide investigar o crime da sua própria maneira. Em um ato que surge mais do desespero do que do sadismo, ele sequestra um dos suspeitos do sequestro, o jovem com problemas mentais Alex (Paul Dano) e começa a torturá-lo em um prédio abandonado da família.

Dessa forma, a narrativa se divide em duas tramas: a do detetive, que ora parece se aproximar da solução do crime, ora parece estar sem esperança alguma de resolvê-lo; e a de Keller, por quem sentimos empatia, pela dor que sente, mas também medo, por nunca sabermos, ao certo, se Alex é ou não culpado por tudo o que aconteceu. O ritmo e o suspense da narrativa aumentam naturalmente, pela própria natureza da história, pois a cada dia que se passa as chances das garotas serem encontradas vivas diminuem, mas o diretor, Denis Villeneuve, também mostra domínio do gênero, como na sequência mais angustiante da trama, envolvendo uma corrida de carro.

Os Suspeitos também se destaca por dar espaço a grandes atuações. Esqueça o Hugh Jackman durão e sarcástico de X-Men, aqui ele é um homem fragilizado pelo sumiço da filha e frustrado por não ter como agir nessa situação, como bom pai, prometeu que nada de ruim aconteceria à sua família mas não conseguiu cumprir sua promessa. Sua atuação é tocante. Ainda mais interessante é a atuação de Jake Gyllenhal, à princípio seu Loki é tudo o que se espera de um detetive, é sério, impassível, durão e racional, mas o tique nervoso que o ator imprime no personagem já revela uma fraqueza emocional interna que irá culminar, ao longo da narrativa, no maior envolvimento do investigador com o caso e em momentos de descontrole em que o personagem explode diante de sua frustração de não conseguir solucionar o crime – sem falar que nos deixa com curiosidade de saber mais sobre esse policial marcado por tatuagens que nunca deixou de resolver um único caso.

Ainda estão no filme Terrence Howard e Viola Davis, os pais da outra menina desaparecida e Maria Bello, que faz a esposa de Keller. Porém, esses personagens pouco fazem durante a narrativa, passam quase que o filme todo paralisados pelo acontecido e por seu próprio sofrimento – o que é realmente uma pena, pois o filme carece de personagens femininas fortes e interessantes. Melissa Leo também está no elenco e faz a mãe do suspeito torturado por Keller, mas sua personagem também não é tão bem explorada quanto Loki e Keller. Ah, sim! E tem o Paul Dano, que também está muito bem no papel do perturbado Alex.

O filme ainda conta com a fotografia do mestre Roger Deakins. Eu adoro os filmes que ele fotografa, acho o cara um gênio, o trabalho dele em O Homem que Não Estava Lá (2001), dos irmãos Coen, é incrível, mas talvez vocês lembrem do trabalho dele com a silhueta de James Bond chutando bundas dentro de um prédio comercial no início de 007 – Operação Skyfall (2012). Eu que eu mais gosto no trabalho dele é o contraste marcado de zonas de luz e sombra, numa pegada expressionista moderna, e em Os Suspeitos não é diferente. Deakins não tem receio de manter os personagens centrais do filme envolto em sombras, o que, em um filme chamado "Prisioneiros" (no original) onde todos são suspeitos, vem muito bem a calhar. A fotografia fria e escura do filme, em parte por ter muitas cenas filmadas durante à noite, também contribuem para reforçar o suspense e manter o clima pesado da trama.

Enfim, Os Suspeitos foi uma ótima descoberta e me fez ficar interessada pelos outros trabalhos do diretor, que me lembrou um pouco David Fincher. O final, no entanto, não foi tão surpreendente pra mim, pois acabei desvendando metade do quebra-cabeça ao longo da narrativa, mas, mesmo assim, é muito bem orquestrado e não deixa buracos para trás, crédito do ótimo roteirista Aaron Guzikowski. Taí, recomendado!

Atenção! O texto abaixo contém spoilers!


Comentando mais diretamente o final. Achei ótimo que toda a tortura de Keller em Alex não foi absolutamente inútil, mas também não contribuiu para que ele encontrasse a filha. Pode-se pensar que Loki teria resolvido todo o caso sozinho, mas não é verdade. Provavelmente Holly não teria a motivação de matar a Anna tão rapidamente e não teria deixado de atender a porta, o que levou Loki desconfiar de que havia algo errado. No entanto, Keller fica ausente de toda a ação e é, no fim, Loki que liga as pontas soltas e resolve o caso ao ver a foto do marido de Holly. Dessa forma, o roteiro não tenta justificar as ações de Keller, que fica ausente de toda a ação, e não tenta fazê-lo pagar pelo o que fez (já que há a sugestão de que foi salvo no final). Para este homem, restará conviver com a culpa de ter torturado apenas mais uma vítima de toda a situação pelo resto da vida.

A única coisa que pra mim ficou um pouco esquisita no filme foi o momento em que a menina resgatada, no hospital, fala que viu Keller onde ela estava presa. O problema não foi ela ter visto Keller, já que ele tinha ido à casa de Holly para conversar, mas de onde surgiram aqueles flashes da menina no meio da rua? Achei meio sem explicação, sem falar no motivo para ela ter escapado e Anna não. Não é algo que compromete a trama, mas realmente ficou sem explicação. Chateada.

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