O Lobo de Wall Street (2013)

6.1.15



Título original: The Wolf of Wall Street. Ano: 2013. Gênero: Drama. Duração: 180 minutos. País: EUA. Direção: Martin Scorsese. Roteiro: Terence Writer. Elenco: Leonardo DiCaprio, Jonah Hill, Margot Robbie, Mathew McConaughey, Kyle Chandler, Rob Reiner, Jon Favreau, Jean Dujardin, Joanna Lumley, Cristin Millioti.

No ano passado eu estava com uma canseira interminável de cinema, só consegui ver filmes de terror e alguns poucos blockbusters no cinema. Felizmente a ressaca passou e resolvi colocar em dia todos os grandes lançamentos que eu perdi, começando com o longo mas ótimo O Lobo de Wall Street, que apesar de ser de 2013 só chegou ao Brasil no começo do ano passado.

Dirigido por Martin Scorsese – que dispensa apresentações –, o filme conta a história verídica de Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio), um corretor da bolsa de valores que ficou rico da noite pro dia nos anos 1980 por meio de seu excepcional talento para vendas e de um bocado de atividades ilegais. 

Mas, ainda que tenha sido baseado em uma história real, o filme é narrado pelo ponto-de-vista de Belfort, o que nos garante acesso aos seus pensamentos mais cretinos, corroborando a intenção de Scorsese de retratá-lo como um completo canalha – em um momento da história, ele diz ter se sentido mal por ter magoado profundamente uma pessoa mas se contradiz na frase seguinte mostrando que superou o evento em três dias. Além disso, por estar constantemente drogado, muitas vezes temos uma visão literalmente distorcida dos acontecimentos, que são confrontados com a realidade de modo a gerar momentos de muito humor no filme, como a sequência em que o personagem, drogado, vê uma escada com apenas cinco degraus como um obstáculo quase intransponível com o dobro de tamanho. Sua arrogância também transparece nos momentos em que ele fala diretamente com o público, muitas vezes desistindo de explicar suas ações por acreditar que não teríamos capacidade de entender o funcionamento da bolsa de valores.

Além de brincar com a repetição de eventos sob pontos-de-vista diferentes e com a interação direta do personagem com o público, Scorsese ainda brinca com a narrativa ao revelar, em voz over, o pensamento de alguns personagens durante alguns diálogos do filme. E o destaque aí vai para a cena em que Belfort conversa normalmente com um banqueiro suíço, interpretado por Jean Dujardin, enquanto refazem a conversa mentalmente de forma direta, xingando um ao outro. Complementando essas variações na narrativa, também há inserções de fotos e comerciais de tv, como a propaganda da empresa de Belfort que abre o filme. Todos esses recursos juntos contribuem para tornar o filme mais dinâmico e suas três horas de duração um pouco menos cansativas.

Na verdade, o filme nunca para. Se a história de Belfort é um tanto quanto previsível, já que é de se esperar que a polícia feche o cerco em torno de suas atividades ilícitas, sua jornada é recheada de eventos inesperado e absurdos, como a festa que dá em seu escritório onde arremessa anões em um tiro ao alvo, a presença constante de strippers e prostitutas naquele ambiente, assim como um acidente no mar que irá sofrer na última hora do filme. Os personagens que o cercam também são divertidíssimos, como o primeiro chefe de Belfort, interpretado por Matthew McConaughey, que aparece apenas uma vez, mas rouba a cena e nos faz querer que ele continue no filme. O melhor amigo e sócio de Belfort, Donnie, é interpretado com maestria por Jonah Hill, deixando transparecer, em meio ao seu jeito atrapalhado e engraçado, toda a arrogância e estupidez de seu patético personagem. Até mesmo eu que não gosto muito do ator preciso reconhecer que ele mandou muito bem no papel. Fazem ótimas e também engraçadas pontas no filme os diretores Spike Jonze, Jon Favreau e Rob Reiner – este que interpreta o pai estourado e hilário de Belfort. Resumindo: o filme não para e apesar de todo o mal caráter de Belfort, é impossível não sentir curiosidade de continuar a acompanhá-lo diante desse universo tão caótico e rico de personagens.

Leonardo DiCaprio é eficiente em mostrar a transformação de Belfort de um homem tímido que fazia de tudo para agradar o chefe ao excêntrico viciado que se acha esperto o bastante para subornar um agente do FBI e achar que isso vai dar certo. Aliás, essa cena, que também conta com a interpretação discreta e pé-no-chão de Kyle Chandler, é, pra mim, a segunda melhor cena do filme, perdendo apenas para hilária sequência em que Belfort briga com Donnie sob efeitos de drogas. Entretanto, em diversos momentos achei que DiCaprio pesou um pouco a mão, tornando Belfort caricato demais, inverossímil demais, como quando discursava para seus funcionários. É clara ali a intenção de Scorsese de fazer o público associar aqueles momentos a uma espécie de culto religioso em torno do dinheiro, mas, mesmo assim, foram os momentos de DiCaprio de que menos gostei.

Enfim, O Lobo de Wall Street é um ótimo filme, mas não o considero um dos melhores de 2013, muito menos o meu favorito do diretor, que continua sendo Os Bons Companheiros (1990), mas é divertido, bem realizado e tem uma trilha sonora maravilhosa. Indicado para aqueles dias cheios de tédio e preguiça (bom, pelo menos três horas do seu dia vão passar rapidinho). 

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