O Poder do Hábito – Charles Duhigg

30.12.14


Eu não sou muito fã de livros tipo "auto-ajuda", mas fiquei bastante curiosa sobre "O Poder do Hábito" depois de ver o Gui, do Aventuras de Gui, falar dele no Youtube. E, realmente, esse livro vale muito a pena! Acabei descobrindo coisas novas não só sobre os hábitos que estabelecemos na nossa vida, mas também sobre outras coisas tão importantes quanto, como a revelação de que a força de vontade é finita, como laços fracos entre as pessoas de uma comunidade podem levar a mudanças em massa imensas, e também como uma pequena mudança quase irrelevante pode transformar toda realidade em um efeito borboleta insano! Por essas descobertas, considero que ele seja muito mais um livro sobre a ciência do comportamento humano do que sobre auto-ajuda, mas, é assim que o livro tem sido classificado pelas livrarias.

Escrito por Charles Duhigg, colunista da The New York Times, o livro reúne várias histórias que servem de pano de fundo para que o autor explique a teoria por trás das atitudes dos personagens dessas narrativas. Isso, por si só, já torna a escrita menos massante, por fluir quase como um livro de ficção e não como um livro técnico chato, cheio de conceitos e regras a serem seguidas. Além disso, a variedade e a relevância das histórias também contribui para a vontade de prosseguir com a leitura. Entre as histórias, descobrimos como a Starbucks se tornou a Starbucks; como a Target descobre o que os americanos querem comprar antes mesmo de eles terem consciência do que desejam comprar; como a prisão de uma única mulher negra conhecida por toda a comunidade na capital do Alabama levou Martin Luther King a iniciar sua luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. O mais impressionante de todas essas histórias é que tudo está ligado aos hábitos dessas pessoas.

E com relação a eles, o livro também é muito eficiente ao explicar como nosso cérebro funciona. Resumidamente, nossos hábitos são cultivados por uma sequência de deixa > hábito > recompensa, de forma que para mudar qualquer hábito, precisamos, em primeiro lugar, identificar a deixa que nos leva a iniciar alguma coisa e também a recompensa, ou seja, o que ganhamos ao agir de uma determinada forma. Como exemplo, ele explica o pequeno drama pessoal que ele viveu ao perceber que estava engordando ao comer, todos os dias, cookies no intervalo de seu trabalho. Ele fez vários testes, marcando a hora em que o hábito acontece, o que ele estava fazendo e como estava se sentindo antes de ir comprar os cookies, o que fazia enquanto comprava cookies e como se sentia quando voltava pra sua mesa. Por fim, ele descobriu que seu hábito não era movido pela fome ou por estar cansado do trabalho, era pura e simplesmente uma necessidade de interagir com alguém por volta das 15h30,o que acontecia quando ele ia até a padaria, acompanhado de colegas, para comprar cookies. Assim ele conseguiu mudar seu hábito, procurando interagir com seus amigos do trabalho sem sair do próprio escritório por volta desse horário.

Outro exemplo legal foi da Alcoa, uma das maiores empresas de alumínio do mundo. Ela acabou se tornando referência em segurança na área quando, em meio a uma crise financeira interna, um novo presidente da empresa anunciou que sua única mudança para tirar todos do buraco seria garantir que nenhum acidente acontecesse com os funcionários da indústria. Uma decisão aparentemente aleatória, mas que causou uma mudança profunda na empresa ao melhorar a comunicação entre gerentes e funcionários, ao garantir segurança aos trabalhadores e favorecer ao surgimento de um ambiente em que ideias podiam fluir a partir de qualquer emprego e chegar ao CEO, favorecendo mudanças positivas em todos os setores da empresa. É isso que ele chama de hábito angular, uma mudança minúscula que irá alterar toda uma série de hábitos muito mais arraigados em uma pessoa ou sociedade.

De exemplo pessoal sobre os hábitos angulares ele fala de uma mulher, afogada em dívidas causadas por sua compulsão por compras, que decidiu num prazo de um ano estar em condições de fazer uma viagem pelo deserto do Saara. Para tanto, ela começou a se exercitar e, por consequência, acabou mudando outros hábitos em sua vida: parou de fumar, a melhora na auto-estima garantiu melhor performance no trabalho, novas amizades, um novo relacionamento amoroso e, com isso, a redução automática de suas dívidas financeiras e sua necessidade de gastar compulsivamente. Falando assim parece que foi tudo simples e é certamente isso que Duhigg quer mostrar: que toda grande mudança começa com coisas pequenas, que qualquer pessoa é capaz de fazer.

Tem muitas outras coisas legais sobre o livro, mas para não deixar essa resenha maior do que já está, queria terminar falando sobre a maior descoberta que tive com esse livro: de que a força de vontade é finita. Por meio de exemplos e pesquisas, ele revela que a força de vontade funciona como um músculo, de forma que, se usada ao longo do dia, você dificilmente terá energia pra seguir à dieta à noite, estudar ou fazer algum exercício físico pra sair do sedentarismo. Achei isso muito relevador, ainda mais em uma sociedade que adora dizer que tudo está ao alcance das mãos, basta ter "força de vontade". Bom, parece que não é tão simples assim, é necessário saber administrar esse recurso.

A parte mais "auto-ajuda" do livro se encontra no final, em seu apêndice, em que o autor faz um guia pra nos ajudar a identificar um hábito e mudá-lo, o que eu achei bem legal. Ele termina o livro com um tom muito brega, com aquelas mensagens super positivas pra inspirar o leitor, mas, se você chegou até o final, certamente vai ter se inspirado muito mais pelas histórias contadas pelo livro do que pelas belas palavras do autor.

O Poder do Hábito – Por que fazermos o que fazemos na vida e nos negócios foi publicado no Brasil pela Editora Objetiva, com tradução de Rafael Mantovani e 408 páginas.

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